Basta
quer dizer, basta !
Alain De Botton
Como
nós podemos ter tanto , e ainda assim
nos
sentirmos tão pobres .
Se
você for a qualquer grande livraria americana e pesquisar as prateleiras da
seção de livros de auto-ajuda provavelmente irá distinguir títulos,oferecendo
dois grandes temas. Primeiro ,livros que lhe dirão como ganhar muito dinheiro
rápido . Em segundo lugar livros que vão te ajudar a lidar com sua baixa auto-
estima .
Esta
combinação não é uma coincidência . Os dois assuntos parecem ser necessários e
quase inevitavelmente companheiros de
sua cabeceira de cama .
As
sociedades que insistem que as oportunidades para o sucesso são ilimitadas e
universalmente inevitáveis, oferecem a seus maus sucedidos membros , um
sentimento que eles tem somente a si próprios para se culpar pelas suas falhas
. Aqueles que estão no nível baixo da meritocracia das sociedades que ocupam ,
cheias de oportunidades, acabam não somente pobres mas também envergonhados.
Um
dos mais resistentes paradoxos da vida moderna é como as sociedades que são
mais ricas do que nunca podem ter falhado no negócio de serem felizes .
Uma
resposta possível pode estar por detrás da psicologia de como nós decidimos ,
quando tudo isso basta !
Nosso
senso de status e prosperidade adequado nunca é decidido independentemente .
É
decidido, comparando nossa condição com aquela de um grupo de referencia, costumeiramente
pessoas que consideramos como nossos iguais . Não podemos comparar o que somos
ou temos isoladamente. Nem podemos julgar nossas vidas perante as vidas
daqueles que nos antecederam .
Não
podemos nos impressionar como somos prósperos em termos históricos . Nós só
podemos considerar afortunados quando tivermos tanto quanto ,ou mais do que,
aquelas pessoas que cresceram junto conosco,ou trabalharam conosco,os quais
temos como amigos e nos identificamos social e publicamente.
Os novos pontos de referência.
O
rígido sistema hierárquico que tomou lugar em quase toda a sociedade do mundo
ocidental até o século dezoito, tem negado toda esperança de movimentos sociais
exceto em casos raros . Foi injusto em
milhares de casos específicos . Mas ofereceu naqueles casos mais surrados
uma notável liberdade : a liberdade de não
ter como referência , muitas pessoas em vários seguimentos da sociedade – e portanto ter para si um
anseio de status e importância como resultante.Foi realmente uma liberdade,
porque ficou mantido e altamente improvável que alguém pudesse chegar aos
píncaros da sociedade .Talvez seja também improvável que alguém pudesse ter
sido tão bem sucedido como Bill Gates no século 17 ou tão poderoso como Louis
XIV foi.
Infelizmente
portanto , isso não seja mais improvável .
Uma
das poucas ambições compartilhadas por políticos no espectro
político-partidario é aquela em que uma sociedade totalmente meritória possa
ser criada , uma sociedade em que todos aqueles que percorressem o caminho para
o topo o fizessem por causa de seus próprios talentos e habilidades – em vez de
agradecer por um privilegio injusto , como ter um parente nas classes mais
altas da sociedade ou uma camaradagem
com o patrão . Este ideal meritório tem trazido oportunidades para milhões .
Indivíduos bem dotados que por séculos estiveram abaixo, dentro de uma casta de
imobilidade hierárquica agora estão livres para expressarem seus talentos num
jogo em campo, mais ou menos equilibrado .
Inevitavelmente
,todavia existe um lado obscuro na idéia da meritocracia . Se nós realmente
acreditamos que criamos [ou que um dia poderemos criar ] um mundo onde o bem
sucedido verdadeiramente teve méritos em todo o seu sucesso , necessariamente
segue-se que temos também que nos responsabilizar exclusivamente por suas falhas
também . Em uma era meritocrática um elemento justificável se introduz na
distribuição não só da riqueza como também da pobreza .Baixo status então vem a
ser não só meramente lamentável como merecido também .
Uma
solução para a espiral de desejos e expectativas está no reconhecimento de que
a riqueza não está em somente ter muitas coisas .Envolve também nossos anseios
mais profundos .
A
riqueza não é absoluta . É relativa ao desejo . Toda vez que desejamos alguma
coisa, que não podemos ter ,nós empobrecemos,
quaisquer que sejam nossos recursos . E toda vez que nos sentirmos satisfeitos
com o que temos ,podemos considerar como sendo ricos mesmo que realmente tenhamos
pouco .
Realize mais, deseje menos !
Há
dois modos de fazer as pessoas mais ricas : dê a elas mais dinheiro ou
restrinja seus desejos .
As
modernas sociedades tiveram um sucesso espetacular com a primeira opção
mas,alimentando os apetites continuamente,elas tiveram que negar uma parcela de
suas realizações mais importantes..A maneira mais eficaz de se sentir próspero
,pode não ser, tentar ganhar mais dinheiro.Poderia ser distanciarmos –prática e
emocionalmente – de qualquer um a quem consideramos como sendo nosso igual ou a
quem tenha se tornado mais rico do que nós somos .
Assim
sendo ,como as sociedades mais avançadas ,historicamente nos dá salários
elevados , aparentemente nos fará mais ricos . Mas na verdade , o efeito puro
dessas sociedades ,pode ser empobrecer –nos, porque fomentando expectativas ,
elas deixam uma lacuna permanente entre aquilo que queremos e aquilo que
podemos , quem nós somos ,e quem
poderíamos ser .
O
preço que temos pago, por esperarmos ter muito mais do que nossos antepassados
é o sentimento permanente que nós estamos muito longe de ser tudo que
poderíamos .
Alain De Botton é um autor nascido na Suissa,
ensaísta e filósofo, tem dedicado sua vida escrevendo livros a respeito da vida
diária . Seu mais recente best-seller é Status Anxiety.
Alain De Botton
From Intelligent Life, Summer of
2004
Pesquisa ,
Tradução , Divulgação : Miguel Moyses Neto
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mikenet
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