segunda-feira, 13 de maio de 2013

Em defesa do cartão de crédito


Em defesa do cartão de crédito

  
By  André Massaro
Frequentemente, quando cometemos alguma barbeiragem no trânsito, aparece alguém fazendo gozação e dizendo que o carro tem um problema naquela “pecinha que fica atrás do volante” (o motorista…).
Esse tipo de piada serve para nos lembrar de que carros, assim como outros objetos, não têm vontade própria. Existem falhas mecânicas inesperadas e imprevistos diversos no trânsito, e nem sempre somos culpados pelo acidente, mas, na maioria das vezes, a tal “pecinha” tem uma influência considerável.
A mesma lógica se aplica ao cartão de crédito, que é o instrumento de crédito ao mesmo tempo mais popular e mais demonizado do Brasil. Sempre aparece alguém dizendo que o cartão de crédito é “culpado” pelas dívidas das pessoas, mas convenientemente esquecemos que assim como a tal “peça que fica atrás do volante”, também existe uma “peça” que saca o cartão da bolsa ou da carteira. Ele não sai da bolsa sozinho para comprar coisas por aí aleatoriamente.
O grande problema do cartão de crédito são as taxas de juros do crédito rotativo. Aqui no Brasil, segundo a última pesquisa de juros da ANEFAC (de fevereiro de 2013), a taxa média anual do rotativo é de 192,94% ao ano. Apenas para fins de comparação, o rotativo de um cartão de crédito comum nos EUA está em torno de 16% AO ANO, de acordo com o site de comparação de taxas Bankrate.com. Nossas taxas quebram qualquer um.
Mas a verdade é que o rotativo não deveria, pelo menos em tese, ser uma ferramenta de crédito de uso contínuo e prolongado. Ele não é a ferramenta financeira adequada para isso. Ele deveria ser usado apenas para crises e situações emergenciais, assim como um medicamento corticoide que funciona bem em casos de dor extrema, mas não deve ser usado de forma continuada, pois pode intoxicar o organismo. Enfim, a culpa não é do cartão, mas sim da “pecinha”…
Entendendo, então, que o cartão é inocente, quais são as grandes vantagens dele? Onde podemos tê-lo como aliado e não como um destruidor de orçamentos?
1)      Crédito “grátis”
Grátis “uma ova”! O custo do cartão de crédito para o lojista e para a administradora está embutido no preço dos produtos. Existe muita discussão sobre a adoção de um preço diferenciado para produtos pagos com cartão ou por outros meios, mas ao menos por enquanto a regra é que o preço seja igual, independente do meio de pagamento.
Ao não usar o cartão, você está subsidiando o custo do cartão de crédito de outras pessoas que estão usando, já que ele está embutido no preço do produto que é pago por todo mundo. Então por que não usá-lo? Ainda que você pague em dinheiro e opte por não usar o cartão, estará pagando pelo cartão de qualquer forma. E ainda pode aproveitar do crédito supostamente “grátis” de até trinta dias (não estou falando de rotativo aqui) para pagamento da fatura.
2)      Conveniência e segurança
É mais conveniente carregar um cartão do que uma grande quantia de dinheiro “vivo” (mas não é interessante andar só com o cartão e sem dinheiro nenhum). Em caso de roubo, alguns cartões são protegidos por seguro e podem ser cancelados. Já o dinheiro, “se sumir, sumiu”.
3)      Vantagens e programas de fidelidade
O custo desses programas é outra coisa que acaba sendo embutida em outros lugares e acabamos pagando por isso sem saber, então por que não tirar proveito, já que estamos pagando mesmo? Apenas cuidado para não cair na armadilha de fazer gastos desnecessários simplesmente para acumular pontos.
4)      “Auditabilidade”
Para mim, uma das maiores vantagens. As transações feitas em cartão de crédito deixam registros detalhados na fatura e facilitam os controles financeiros. A possibilidade de consultar as faturas online em tempo real, antes do fechamento, facilita ainda mais esse controle. Nossos gastos ficam perfeitamente “auditáveis”.
Fazer registro de cada compra é algo maçante e trabalhoso, e quando fazemos nossas transações apenas com dinheiro, em algum momento acabamos deixando os controles de lado. O cartão faz essa “parte chata” por nós.
O custo do rotativo é, de longe, a maior desvantagem do cartão de crédito. Existem outras, contudo a maioria delas está associada não ao cartão, mas a nós mesmos (a tal “pecinha” de novo…), como a falsa sensação de que temos “dinheiro sobrando” e a facilidade de cair em tentações de consumo.
Mas se conseguirmos isolar aquilo que é nossa responsabilidade e não atribuir ao cartão de crédito poderes “maléficos” que ele não tem, podemos focar nas vantagens que ele oferece para deixar nossa vida financeira mais fácil e mais eficiente.
André Massaro
www.andremassaro.com.br

Ainda sobre as vantagens do cartão de crédito

  

André Massaro
No artigo anterior (clique aqui para ver), falei sobre vantagens do cartão de crédito, uma forma de tentar mostrar que ele não é o “vilão” que gostamos de pintar de vez em quando.
Quando o artigo foi publicado, eu imaginei (e acabei acertando) que dois pontos em particular iriam gerar alguma polêmica nas redes sociais.
O primeiro deles era sobre a questão da responsabilidade individual (usei a metáfora da “pecinha”). Uma das maiores “brigas” do pessoal que trabalha com finanças pessoais, direito do consumidor, psicologia econômica e afins é a questão da responsabilidade individual versus as pressões do mercado e do “ambiente”. Temos, em um extremo, aqueles que veem as pessoas como vítimas indefesas do “sistema”, que acabam caindo no endividamento e no consumo excessivo porque são induzidas a isso. No outro extremo está o pessoal de visão mais “liberal” (no sentido político) que vê tudo o que acontece com as pessoas como consequência de escolhas que elas tomaram, e que elas devem ser 100% responsáveis por essas consequências. É a visão da “responsabilidade individual extrema”.
Eu mesmo oscilo bastante entre esses dois extremos (sou obrigado a reconhecer). As coisas em finanças pessoais e consumo raramente são tão “preto no branco” quanto gostamos de acreditar; o componente ideológico tem um peso considerável e é sempre difícil formar uma opinião segura, mas no atual momento estou pendendo mais para o lado da responsabilidade individual. Inclusive, explorei bastante essa questão aqui no blog no início do ano (quando falei sobre a “Nova era da responsabilidade individual”) e deverá ser um assunto recorrente em postagens futuras.
O segundo ponto foi quando falei do “crédito grátis”. Todos nós sabemos que crédito grátis não existe nem aqui e nem em lugar algum. O dinheiro tem custo e, se nós não estamos pagando por ele, é porque alguém está subsidiando.
No Brasil, não é usual praticar preços diferenciados para compras feitas com cartão e com outros meios de pagamento. Ao menos em teoria, o nosso Código do Consumidor não permite discriminação de preços e há uma certa controvérsia, inclusive entre as autoridades financeiras, judiciais e de defesa do consumidor, sobre a legalidade ou não da diferenciação de preços. Na dúvida, a prática mais comum é manter os preços iguais para pagamento com cartão e por outros meios. Alguns dão desconto quanto se opta por não usar o cartão, mas normalmente fazem isso de forma discreta.
Vender com cartão de crédito implica em custos para o comerciante e ele precisa inserir esse custo em algum lugar (e esse “algum lugar”, antes que alguém comece a ter ideias, é no preço de venda do produto…). O custo é então repassado ao consumidor e, como todo mundo paga, ao menos em princípio, o mesmo preço pelo produto, todos acabarão pagando pelos custos do cartão de crédito. Só que quem efetivamente paga com o cartão de crédito estará usufruindo dos benefícios, da comodidade e do diferimento do pagamento por até 30 dias (sempre lembrando que o dinheiro tem um valor ao longo do tempo, então, tecnicamente falando, há um pequeno desconto no preço a se considerar – mais uma vantagem para quem usa cartão).
Agora aquele indivíduo que não usa o cartão de crédito também está pagando, mas não usufrui de benefício algum. Ele apenas “banca” a vantagem de quem usa o cartão. Ele está subsidiando o custo financeiro para que outros se beneficiem. Vendo, então, por um ponto de vista estritamente financeiro, NÃO usar cartão de crédito é um péssimo negócio…
Em finanças pessoais, raramente se faz dívida para obter “alavancagem” (usar o dinheiro para gerar mais dinheiro). A esmagadora maioria das dívidas é para consumo; por isso, salvo raríssimas exceções, o endividamento de pessoas físicas é algo nocivo. Mas uma dessas raras exceções (e que por aqui no Brasil está ficando cada vez menos rara) é quando há uma distorção na formação entre os preços “à vista” e “a prazo”.
Quando um produto tem um determinado preço a prazo e seu preço à vista é exatamente igual à soma das parcelas (“mil reais à vista ou dez parcelas de cem reais”), o custo financeiro está embutido no preço do produto, independentemente da forma de pagamento, e quem comprar à vista acabará financiando aqueles que comprarem a prazo. A coisa certa numa situação assim seria que o lojista oferecesse um desconto no valor à vista. Às vezes, isso acontece, mas nem sempre, seja porque o vendedor tem uma política de preços rígida (prática comum em grandes varejistas) ou porque simplesmente não entende o valor do dinheiro ao longo do tempo (algo mais comum entre pequenos comerciantes). Quando é assim, a coisa lógica a fazer é se endividar…
Onde está o perigo? O perigo está no descontrole financeiro e é aí que pelo menos 90% das pessoas “entram pelo cano”. As pessoas compram, convenientemente se “esquecem” que o dinheiro das parcelas já está comprometido com os pagamentos futuros e começam a fazer mais compras e a acumular mais parcelas. Nesse momento, o endividamento “estratégico”, feito para tirar proveito de uma distorção nos preços, acaba virando um endividamento “real”, uma bomba-relógio financeira. BH 27/04/2013


Pesquisa e Divulgação : Miguel Moyses Neto  Se gostou desta matéria , divulgue para seus amigos.
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