Em defesa do cartão de crédito
By André
Massaro
Frequentemente, quando cometemos alguma barbeiragem no trânsito, aparece
alguém fazendo gozação e dizendo que o carro tem um problema naquela “pecinha
que fica atrás do volante” (o motorista…).
Esse tipo de piada serve para nos lembrar de que carros, assim como
outros objetos, não têm vontade própria. Existem falhas mecânicas inesperadas e
imprevistos diversos no trânsito, e nem sempre somos culpados pelo acidente,
mas, na maioria das vezes, a tal “pecinha” tem uma influência considerável.
A mesma lógica se aplica ao cartão de crédito, que é o instrumento de
crédito ao mesmo tempo mais popular e mais demonizado do Brasil. Sempre aparece
alguém dizendo que o cartão de crédito é “culpado” pelas dívidas das pessoas,
mas convenientemente esquecemos que assim como a tal “peça que fica atrás do
volante”, também existe uma “peça” que saca o cartão da bolsa ou da carteira.
Ele não sai da bolsa sozinho para comprar coisas por aí aleatoriamente.
O grande problema do cartão de crédito são as taxas de juros do crédito
rotativo. Aqui no Brasil, segundo a última pesquisa de juros da ANEFAC (de
fevereiro de 2013), a taxa média anual do rotativo é de 192,94% ao ano. Apenas
para fins de comparação, o rotativo de um cartão de crédito comum nos EUA está
em torno de 16% AO ANO, de acordo com o site de comparação de taxas
Bankrate.com. Nossas taxas quebram qualquer um.
Mas a verdade é que o rotativo não deveria, pelo menos em tese, ser uma
ferramenta de crédito de uso contínuo e prolongado. Ele não é a ferramenta
financeira adequada para isso. Ele deveria ser usado apenas para crises e
situações emergenciais, assim como um medicamento corticoide que funciona bem
em casos de dor extrema, mas não deve ser usado de forma continuada, pois pode
intoxicar o organismo. Enfim, a culpa não é do cartão, mas sim da “pecinha”…
Entendendo, então, que o cartão é inocente, quais são as grandes
vantagens dele? Onde podemos tê-lo como aliado e não como um destruidor de
orçamentos?
1) Crédito “grátis”
Grátis “uma ova”! O custo do cartão de crédito para o lojista e para a
administradora está embutido no preço dos produtos. Existe muita discussão
sobre a adoção de um preço diferenciado para produtos pagos com cartão ou por
outros meios, mas ao menos por enquanto a regra é que o preço seja igual,
independente do meio de pagamento.
Ao não usar o cartão, você está subsidiando o custo do cartão de crédito
de outras pessoas que estão usando, já que ele está embutido no preço do
produto que é pago por todo mundo. Então por que não usá-lo? Ainda que você
pague em dinheiro e opte por não usar o cartão, estará pagando pelo cartão de
qualquer forma. E ainda pode aproveitar do crédito supostamente “grátis” de até
trinta dias (não estou falando de rotativo aqui) para pagamento da fatura.
2) Conveniência e segurança
É mais conveniente carregar um cartão do que uma grande quantia de
dinheiro “vivo” (mas não é interessante andar só com o cartão e sem dinheiro
nenhum). Em caso de roubo, alguns cartões são protegidos por seguro e podem ser
cancelados. Já o dinheiro, “se sumir, sumiu”.
3) Vantagens e programas de fidelidade
O custo desses programas é outra coisa que acaba sendo embutida em
outros lugares e acabamos pagando por isso sem saber, então por que não tirar
proveito, já que estamos pagando mesmo? Apenas cuidado para não cair na
armadilha de fazer gastos desnecessários simplesmente para acumular pontos.
4)
“Auditabilidade”
Para mim, uma das maiores vantagens. As transações feitas em cartão de
crédito deixam registros detalhados na fatura e facilitam os controles
financeiros. A possibilidade de consultar as faturas online em tempo real,
antes do fechamento, facilita ainda mais esse controle. Nossos gastos ficam
perfeitamente “auditáveis”.
Fazer registro de cada compra é algo maçante e trabalhoso, e quando
fazemos nossas transações apenas com dinheiro, em algum momento acabamos
deixando os controles de lado. O cartão faz essa “parte chata” por nós.
O custo do rotativo é, de longe, a maior desvantagem do cartão de
crédito. Existem outras, contudo a maioria delas está associada não ao cartão,
mas a nós mesmos (a tal “pecinha” de novo…), como a falsa sensação de que temos
“dinheiro sobrando” e a facilidade de cair em tentações de consumo.
Mas se conseguirmos isolar aquilo que é nossa responsabilidade e não
atribuir ao cartão de crédito poderes “maléficos” que ele não tem, podemos
focar nas vantagens que ele oferece para deixar nossa vida financeira mais
fácil e mais eficiente.
André Massaro
www.andremassaro.com.br
www.andremassaro.com.br
Ainda sobre as vantagens do cartão de
crédito
André Massaro
No artigo anterior (clique aqui para ver), falei sobre vantagens do cartão de crédito, uma forma de
tentar mostrar que ele não é o “vilão” que gostamos de pintar de vez em quando.
Quando o artigo foi publicado, eu imaginei (e acabei acertando) que dois
pontos em particular iriam gerar alguma polêmica nas redes sociais.
O primeiro deles era sobre a questão da responsabilidade individual
(usei a metáfora da “pecinha”). Uma das maiores “brigas” do pessoal que
trabalha com finanças pessoais, direito do consumidor, psicologia econômica e
afins é a questão da responsabilidade individual versus as pressões do mercado e do
“ambiente”. Temos, em um extremo, aqueles que veem as pessoas como vítimas
indefesas do “sistema”, que acabam caindo no endividamento e no consumo
excessivo porque são induzidas a isso. No outro extremo está o pessoal de visão
mais “liberal” (no sentido político) que vê tudo o que acontece com as pessoas
como consequência de escolhas que elas tomaram, e que elas devem ser 100%
responsáveis por essas consequências. É a visão da “responsabilidade individual
extrema”.
Eu mesmo oscilo bastante entre esses dois extremos (sou obrigado a
reconhecer). As coisas em finanças pessoais e consumo raramente são tão “preto
no branco” quanto gostamos de acreditar; o componente ideológico tem um peso
considerável e é sempre difícil formar uma opinião segura, mas no atual momento
estou pendendo mais para o lado da responsabilidade individual. Inclusive,
explorei bastante essa questão aqui no blog no início do ano (quando falei
sobre a “Nova
era da responsabilidade individual”) e deverá ser
um assunto recorrente em postagens futuras.
O segundo ponto foi quando falei do “crédito grátis”. Todos nós sabemos
que crédito grátis não existe nem aqui e nem em lugar algum. O
dinheiro tem custo e, se nós não estamos pagando por ele, é porque alguém está
subsidiando.
No Brasil, não é usual praticar preços diferenciados para compras feitas
com cartão e com outros meios de pagamento. Ao menos em teoria, o nosso Código
do Consumidor não permite discriminação de preços e há uma certa controvérsia,
inclusive entre as autoridades financeiras, judiciais e de defesa do
consumidor, sobre a legalidade ou não da diferenciação de preços. Na dúvida, a
prática mais comum é manter os preços iguais para pagamento com cartão e por
outros meios. Alguns dão desconto quanto se opta por não usar o cartão, mas
normalmente fazem isso de forma discreta.
Vender com cartão de crédito implica em custos para o comerciante e ele
precisa inserir esse custo em algum lugar (e esse “algum lugar”, antes que
alguém comece a ter ideias, é no preço de venda do produto…). O custo é então
repassado ao consumidor e, como todo mundo paga, ao menos em princípio, o mesmo
preço pelo produto, todos acabarão pagando pelos custos do cartão de crédito.
Só que quem efetivamente paga com o cartão de crédito estará usufruindo dos benefícios,
da comodidade e do diferimento do pagamento por até 30 dias (sempre lembrando
que o dinheiro tem um valor ao longo do tempo, então, tecnicamente falando, há
um pequeno desconto no preço a se considerar – mais uma vantagem para quem usa
cartão).
Agora aquele indivíduo que não usa o cartão de crédito também está
pagando, mas não usufrui de benefício algum. Ele apenas “banca” a vantagem de
quem usa o cartão. Ele está subsidiando o custo financeiro para que outros se
beneficiem. Vendo, então, por um ponto de vista estritamente financeiro, NÃO
usar cartão de crédito é um péssimo negócio…
Em finanças pessoais, raramente se faz dívida para obter “alavancagem”
(usar o dinheiro para gerar mais dinheiro). A esmagadora maioria das dívidas é
para consumo; por isso, salvo raríssimas exceções, o endividamento de pessoas
físicas é algo nocivo. Mas uma dessas raras exceções (e que por aqui no Brasil
está ficando cada vez menos rara) é quando há uma distorção na formação entre
os preços “à vista” e “a prazo”.
Quando um produto tem um determinado preço a prazo e seu preço à vista é
exatamente igual à soma das parcelas (“mil reais à vista ou dez parcelas de cem
reais”), o custo financeiro está embutido no preço do produto,
independentemente da forma de pagamento, e quem comprar à vista acabará
financiando aqueles que comprarem a prazo. A coisa certa numa situação assim
seria que o lojista oferecesse um desconto no valor à vista. Às vezes, isso
acontece, mas nem sempre, seja porque o vendedor tem uma política de preços rígida
(prática comum em grandes varejistas) ou porque simplesmente não entende o
valor do dinheiro ao longo do tempo (algo mais comum entre pequenos
comerciantes). Quando é assim, a coisa lógica a fazer é se endividar…
Onde está o perigo? O perigo está no descontrole financeiro e é aí que
pelo menos 90% das pessoas “entram pelo cano”. As pessoas compram,
convenientemente se “esquecem” que o dinheiro das parcelas já está comprometido
com os pagamentos futuros e começam a fazer mais compras e a acumular mais parcelas.
Nesse momento, o endividamento “estratégico”, feito para tirar proveito de uma
distorção nos preços, acaba virando um endividamento “real”, uma bomba-relógio
financeira. BH 27/04/2013
Pesquisa e Divulgação : Miguel Moyses Neto Se gostou
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