sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O investidor que consegue retorno de 400%

Num dia em fins de 2010, alguns ricos investidores e gestores de fundos se reuniram em um escritório no centro de Manhattan. Eram homens do dinheiro de Wall Street; no total, administravam mais de US$ 1 bilhão. Eles tinham acesso aos fundos de hedge e às sociedades de investimento mais cobiçados e conviviam com a elite de Nova York, Greenwich e Palm Beach.
Mas naquele dia, estavam ali para encontrar um desconhecido de Utah, 3.500 quilômetros a oeste do centro financeiro nova-iorquino, que não terminou a faculdade. Eles queriam descobrir como esse rapaz estava deixando todos eles para trás de maneira humilhante.
Tom Bear para a SmartMoney
À frente de um fundo de investimentos pequeno e obscuro, Allan Mecham deixou seus reluzentes rivais de Wall Street comendo poeira
O desconhecido, Allan Mecham, vinha registrando retornos impressionantes por dez anos seguidos em um minúsculo fundo privado de investimento chamado Arlington Value Management, e os homens de Wall Street estavam considerando saltar a bordo. Por quase duas horas, eles o encheram de perguntas. Onde aprendeu a fazer negócios? "Eu leio muito", respondeu. Ele tem um MBA? "Não. Abandonei a faculdade antes de terminar." Ele tem um modelo de computador ou algoritmo inteligente? "Não", respondeu. "Não uso muito planilhas." O grupo poderia ver algumas de suas análises de investimentos? "Também não tenho nada disso", disse. "Está tudo na minha cabeça." Os investidores ficaram desconcertados. Bem, ele poderia ao menos dizer para onde ele achava que o mercado de ações estava indo? "Eu não sei", respondeu Mecham.
Quando a reunião terminou, "a maioria das pessoas saiu da sala perplexa", diz Brendan O'Brien, um administrador de carteira de Nova York que participou do encontro. "Eles estavam esperando um homem muito bem vestido e de língua afiada. Eles diziam, "não entendo, não entendo por que ele não teria uma opinião sobre o mercado; os administradores de recursos são pagos para ter uma opinião sobre o mercado". Mecham já enfrentou esse tipo de perplexidade antes — uma das razões por que ele raramente se reúne com potenciais investidores. É difícil vender seu produto para uma indústria que está acostumada a fazer algo completamente diferente. Afinal de contas, segundo as regras de Wall Street, ele não deveria sequer estar nesse ramo.
Ao longo de uma trajetória de 12 anos, até o fim de 2011, Mecham, com meros 34 anos, obteve um surpreendente retorno acumulado de mais de 400%, investindo em ações de empresas americanas — muitas das maiores, como a Philip Morris, AutoZone e PepsiCo. Esse tipo de desempenho em um investimento deixa os índices de ações e a maioria dos fundos mútuos comendo poeira. Dos milhares de fundos mútuos dos Estados Unidos, só um punhado de fundos especializados em ações parece ter ido melhor, segundo a firma de dados sobre o setor Lipper. A Arlington, que está estruturada como um fundo de hedge, deixou a maioria das firmas nessa categoria muito para trás também. E conseguiu obter lucro mesmo durante o crash de 2008, quando o índice Standard & Poor's de 500 ações perdeu quase 40% de seu valor. E Mecham fez isso sentado numa poltrona de escritório sobre uma lanchonete de comida mexicana, no centro de Salt Lake City.
Mecham não olha, fala nem age como um típico personagem de Wall Street. Ele tem fala mansa. Não usa jargões. Veste-se como se trabalhasse numa livraria, com camisa listrada e gravata sem estampa. E sua história de sucesso, sem dúvida, diz muito sobre as falhas da indústria dos fundos de gestão de ativos. Tanto Mecham como outros investidores que analisaram seu fundo em detalhes dizem que ele não tem nenhuma receita secreta ou algoritmo incrível — o mais extraordinário sobre este jovem é o quão comum ele é. Mas sua estratégia de investimento se apoia em um punhado de táticas de senso comum — concentrar-se apenas em algumas ações e evitar ou ignorar análises estatísticas de curto prazo, por exemplo —, que as grandes empresas de administração de carteira não podem usar ou relutam em experimentar. Tanto céticos quanto admiradores concordam que a estratégia de Mecham envolve um potencial maior do que o normal de perdas pesadas. Russ Kinnel, diretor de pesquisa sobre fundos na Morningstar, diz que é pouco provável que a maioria dos clientes de fundos queira correr o risco. "Os fundos de pensão, consultores e investidores em geral são bastante dependentes dos índices de ações", observa Kinnel, eles não se sentem confortáveis com administradores que se desviam do caminho seguro.
Mas, não obstante, seria um pouco de exagero caracterizar Mecham como um rebelde — afinal, ele é o tipo de homem que diz que o ponto alto do ano passado foi uma viagem a Omaha (ele levou a namorada para a conferência anual de investimentos de Warren Buffett). Como praticamente todos os outros gestores da indústria, Mecham diz que gostaria de levantar mais capital para investir — sua empresa é pequena, com uma carteira de apenas US$ 80 milhões. Mas, por enquanto, os poucos profissionais que se aventuraram em sua carteira estão felizes de manter o fundo longe dos holofotes. É claro que muitos acham que descobriram algo especial.
Após a estranha reunião em Nova York, O'Brien, que dirige o Gold Coast Wealth Management, ficou suficientemente intrigado para fazer mais buscas — e depois de passar meses falando com Mecham e verificar seus resultados, ele entrou no barco, investindo mais de US$ 1 milhão com o desconhecido de Utah. "Para usar uma analogia dos esportes", diz O'Brien, encontrar Mecham foi "uma dessas raras vezes em que uma estrela independente é descoberta bem no início de seu estrelato."
Os tempos exigem que investidores se aproximem de gênios das bolsas com cautela — e mais ainda no setor de investimento privado, onde os gestores operam sem o escrutínio que os grandes fundos mútuos têm de enfrentar. Muitos desses fundos não têm de se registrar na SEC, a comissão de valores mobiliários dos EUA, especialmente se eles são pequenos e se as grandes firmas de pesquisa como a Morningstar não monitoram seu desempenho. Como a aposta mínima em tais fundos frequentemente é bastante elevada — na Arlington, o valor mínimo costuma ser de pelo menos US$ 1 milhão — os investidores têm um incentivo ainda maior para fazer sua própria investigação (O'Brien, por exemplo, diz que falou com os auditores da Arlington para confirmar os valores de investimento. Em seguida, verificou os antecedentes dos auditores.)
No caso de Mecham, a fé reside em alguém cujo histórico é bastante raro para esta indústria. Mecham estudou numa faculdade pública da Universidade de Utah por dois anos — mas logo depois de iniciar um clube de investimento, diz ele, começou achar a rotina da escola chata, em comparação. Ele lia livros sobre investimentos e negócios. "Eu tinha 19 anos", recorda. "Eu ficava acordado até 3h30 da manhã devorando esses livros." Salt Lake City é uma cidade pequena, onde as pessoas se conhecem, e um colega tinha contatos na Wasatch Advisors, uma empresa local de fundos mútuos. Mecham conseguiu um emprego lá e, mais tarde, decidiu não voltar para a faculdade, optando por ficar na empresa.
Os chefes de Mecham na Wasatch dizem que se lembram dele como um empregado bom, mas não excepcional, que fez uma memorável escolha de ações, recomendando que a firma comprasse uma empresa de serviços de saúde que se saiu muito bem. Um ano depois, Mecham decidiu que poderia apostar dinheiro próprio. Ele levantou capital inicial — menos de US$ 200.000, diz ele — de alguns investidores locais liderados por Robert Raybould, um empresário no setor da construção que é pai de Ben Raybould, amigo de infância de Mecham. Em 1999, Mecham lançou seu fundo. Ele tinha 22 anos.
Desde então, a notícia correu, atraindo mais recursos para a Arlington, com Ben Raybould atuando como parceiro de Mecham e principal vendedor do fundo. Documentos apresentados às autoridades de mercado mostram que a empresa tem cerca de 120 investidores, com mais de 75% deles identificados como "indivíduos de alto patrimônio". De acordo com Raybould, dos US$ 80 milhões no fundo, cerca de metade é principal de investidores, e o resto, é lucro. Mas Mecham diz que seus hábitos hoje são praticamente os mesmos de quando ele tinha US$ 200.000 para investir. Ele se senta na poltrona perto da janela, fazendo uma leitura atenta de documentos apresentados por uma companhia às autoridades e outros papéis do alto de uma pilha gigante de material que ele imprime a cada dia. (Mecham prefere ler no papel, à moda antiga, não on-line.)
Sua estratégia de investimento deve ser familiar para qualquer pessoa que tenha acompanhado, mesmo que casualmente, as manobras de Buffett. Mecham busca empresas com grandes perspectivas de longo prazo, ótima administração, fluxo de caixa forte e grandes barreiras de proteção" contra rivais potenciais. E ele salienta a importância de poder se segurar sem fazer nada. "Atividade é inimiga do rendimento", diz Mecham. "Se eu encontrar duas novas ideias por ano, isso é fenomenal." Duas ideias por ano, acrescentam pouco a uma carteira já muito pequena — Mecham normalmente possui entre seis e 12 ações.
Isto é algo que o distingue dos gestores de fundos mútuos: por causa de regulamentos de diversificação do setor, os fundos tradicionais normalmente têm de ter pelo menos 15 ações diferentes.
Os nomes das ações com as quais ele ganhou dinheiro ao longo dos anos dizem muito sobre sua história. Elas não são exatamente empresas glamourosas ou atraentes (Mecham nunca investiu na Apple). "Nossa carteira não é de deixar ninguém animado", brinca. Alguns nomes são bem conhecidos, como a PepsiCo, a gigante de comida rápida Wendy's, a empresa de serviços médicos Wyeth, a fabricante de produtos de consumo 3M e a Berkshire Hathaway, de Buffett. Outras são menos conhecidas, como a Watsco, empresa de US$ 2 bilhões que é a maior distribuidora de equipamentos e peças de ar-condicionado dos EUA. Mecham diz que gosta da admnistração da empresa e de seu modelo de negócio, mas a escolha também teve a ver com uma aposta na indústria — em grande parte dos EUA, observa ele, quando o seu sistema de ar-condicionado quebra, ele precisa ser arrumado. "Não é um desejo, é uma necessidade."
Qual será a próxima aposta da Arlington? Mecham diz que não vai comprometer sua estratégia para jogar seguindo a cartilha de Wall Street. Isso leva Ben Raybould a batalhar para vender um fundo, e um gestor, que muitos gerentes de outros fundos não conseguem sequer entender. Mecham não compreende por que muitas pessoas esperam que ele mantenha uma cesta ampla de ações e siga um índice de referência, como o S&P 500. "É ridículo pensar que, neste mundo competitivo, você vai encontrar ideias brilhantes todos os dias", diz ele. "O mundo simplesmente não está configurado dessa forma."

Publicacao Original : revista smartmoney

Pesquisa , Divulgação : Miguel Moyses Neto

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